Os estudos sobre a capoeira indicam que se trata de uma criação original da população escrava.
A forma, por vezes lúdica, em que é apresentada na contemporaneidade apenas faz alusões
a um experimento inicialmente marcado por enfrentamentos, lutas, castigos físicos, prisões e
sofrimentos. Quando retornamos aos documentos históricos percebemos que uma forma original
de capoeira fora elaborada pelos africanos, escravos e ex-escravos. A intensa repressão à
prática é correlata ao teor da insubmissão que caracterizou a “capoeira escrava”.
Os principais registros sobre prisões motivadas pela prática da capoeira no período escravocrata
datam das primeiras décadas do século XIX. Os dados apresentados por Carlos Eugênio
Líbano Soares, permitem compreender aspectos característicos da “capoeira escrava”. Para o
autor a prática surgiu como uma forma de resistência à escravidão, um instrumento de luta
contra a brutalidade da servidão, porém, diferentemente dos quilombos, que se associavam às
fugas, se circunscreveu ao meio urbano.
O jogo da capoeira não era uma atividade de ‘boçais’ como se denominavam os africanos
recém-chegados, ou um recurso desesperado diante da onipresença da ordem policial. O tipo
social ‘capoeira’, que estava sendo forjado naquele momento exibia vários sinais de estar já
profundamente enraizado na sociedade escravista urbana e articulado com as formas de lidar
com a lei dos brancos e seu aparato de poder (Soares, 2002, p. 78)
Para o autor a formação da capoeira se vincula a estratégias e luta dos escravos que desejavam
permanecer nas cidades. Os dados confirmam que a fuga, alternativa possível para se
escapar à condição de escravo, não se associava aos capoeirista, ou seja, “capoeiras e fugidos,
ao menos na documentação raramente se cruzavam” (p. 79). Os capoeiras, investiam na permanência
no meio urbano, “estreito e perigoso” é bem verdade, demonstrando desenvoltura
nos deslocamentos pela cidade. Ficar na cidade, teria sido uma escolha política dos escravos
que praticavam a capoeira.
O livro Códice 403, relata prisões de capoeiras quase sempre realizadas em período noturno.
Acrescenta algumas estratégias dos capoeiristas, ou seja, aos “assovios de capoeira” e “cabeçadas”.
Referências simbólicas importantes são mencionadas. O uso de fitas de cores, en-
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Disciplina 6 - Diáspora Negra no Brasil
carnadas e amarelas, podem ser lidas como marcas de distinção e pertencimento aos grupos.
Além desses elementos eram citados o chapéu, em forma de barrete, casquete ou boné como
elementos identitários dos capoeiristas. Os capoeiras eram selecionados devido às suas habilidades
pessoais. Possivelmente seriam figuras de destaque na comunidade escrava, exibindo
qualidades como companheirismo, liderança e mesmo conhecimentos mágico-religiosos.
Dados sobre a polícia joanina (1810-1821) trazem informações importantes sobre a composição
étnica dos capoeiras. Ainda de acordo com Soares (2002) 77% deste universo pesquisado
eram de origem africana, 10,6% crioulos e 11% de “origem indeterminada”. Os dados
apresentados por Vidor Reis referente aos anos 1857-1858, referentes à prisão do Calabouço,
revelam que o percentual de nativos crescera, significativamente, 30% do grupo era composto
de escravos crioulos, vindo a seguir 14 etnias, identificadas como sendo majoritariamente da
região de Angola (Vidor Reis, 1997, p. 28), dados que indicam a procedência centro-africana,
conforme, depoimentos colhidos posteriormente junto ao Mestre Pastinha informam que:
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